terça-feira, junho 27, 2006

Tronco da bananeira é matéria-prima para artesãs que transformam a palha em geração de renda

Se para os agricultores a banana é ouro, para muitas mulheres a riqueza dos bananais não está na fruta, mas no tronco geralmente descartado por acumular fungos prejudiciais ao cultivo. O artesanato produzido com a palha extraída do tronco da bananeira tem gerado renda e sucesso ao Vale do Ribeira. Nem as próprias artesãs acreditavam que o empreendimento daria tão certo. Na maioria das cidades da Região, o artesanato feito com a palha da bananeira é ensinado em cursos de geração de renda como promessa garantida de futuro. E não é exagero. Em Juquiá e Miracatu, dois dos municípios onde a técnica está bastante adiantada, muitas mulheres já colhem os frutos do aprendizado. A técnica de retirar a palha do tronco da bananeira foi difundida em 1998, pela Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz (Esalq), que ministrou cursos em alguns municípios do Vale, entre eles, Miracatu. Na época, nem o poder público, nem a população valorizaram a nova forma de fazer artesanato. Em Juquiá, a assessora da primeira-dama, Célia Matias, se interessou pela técnica e apresentou projeto para realização de cursos na cidade. O projeto foi aceito e, em outubro de 99, foi aberta a Oficina Artesanal Comunitária. A Prefeitura cedeu a antiga sede do Lar dos Velhinhos e o governo do Estado enviou recursos. Detalhe, os recursos vieram em forma de camisas - três mil peças, para ser exato. A monitora dos cursos de geração de renda, que antes ministrava aulas de pintura em tecido, foi aprender a técnica em Miracatu. Josefa Lopes Barbosa, a Jô, conta que aprendeu o "básico" em apenas um dia. Na prática, aperfeiçoou seus conhecimentos. Com a venda das camisas, foi possível adquirir seis teares de 80 centímetros e seis cadeiras. Não era muito, mas foi o suficiente para começar. "No início, as pessoas não acreditavam, não davam valor", revela Jô. Além dela, outras quatro mulheres perseveraram e até hoje participam da Oficina, ajudando a produzir e ensinar. Só no ano passado, 170 pessoas passaram pelo curso. Muitos agora fazem o artesanato em casa, como forma de aumentar a renda familiar. Em 2001, a Oficina foi ampliada com recursos do governo do Estado, que propiciaram a compra de novos teares de 1,20m e cadeiras.

Gerando renda - A comercialização dos produtos feitos com a palha da bananeira começou timidamente e hoje alcança sucesso absoluto em todas as feiras e eventos onde o artesanato é exposto. As artesãs de Juquiá participaram pela primeira vez de uma feira em janeiro de 2000, na Ilha Comprida. Depois disso, não pararam mais. Recentemente, ampliaram o mercado ao participar da 1ª Feira de Turismo e Negócios, realizada pela TV Tribuna, e da Festa da Banana, ambas em Santos. Lá, lançaram os mais novos produtos: saias, coletes e biquínis confeccionados com a palha, além de blusas e calças bordadas com o fio retirado do tronco da bananeira. O sucesso foi tanto que já choveram encomendas. Há até indústrias têxteis querendo comprar o fio para produzir roupas. O problema, segundo Jô, é que os fios são muito curtos e ainda não há como emendá-los. O artesanato feito com a palha da bananeira também já foi exposto em amostras no Japão e na França. No próximo final de semana, as artesãs de Juquiá participam de evento em Campinas. "Não podemos perder nenhuma feira, precisamos divulgar cada vez mais nossos produtos", observa Jô. Das peças comercializadas pela Oficina Comunitária, 30% do valor arrecadado fica para o Fundo Social manter os cursos e o restante é dividido entre os alunos. Os preços variam conforme o tamanho e o grau de dificuldade da confecção das peças. As roupas chegam a custar R$ 60,00 a peça. O potencial da palha da bananeira ganha novas dimensões com a criatividade das artesãs. A técnica que começou criando esteiras e jogos americanos - peças retas e mais fáceis de se produzir - evoluiu na medida do esforço das aprendizes. Em Juquiá, a idéia de fazer roupas com a palha surgiu depois das toalhas de mesa. "Percebemos que podíamos fazer crochê com o filé (fio mais fino retirado do tronco), se podíamos fazer toalhas, por que não tentar as roupas?", explica a monitora Jô. E assim, a cada nova peça surgem novas idéias. O desafio agora é revestir sandálias e chinelos com a palha da bananeira. A infinidade de produtos enche os olhos de quem conhece pela primeira vez o artesanato feito com a palha. São esteiras, tapetes, bolsas, cestos, tiaras, bijuterias, descanso de panelas, agendas, porta-retratos, leques, bonecas. A qualidade das peças, com acabamento caprichado, e a textura da palha completam o atrativo aos consumidores, que cada vez mais buscam produtos feitos de forma ecologicamente sustentável. Os interessados em conhecer ou comprar o artesanato de Juquiá pode entrar em contato com Leonel pelo telefone (13) 97418174.

Em Miracatu, artesãs ganham espaço para confeccionar e vender produtos Apesar de ser uma das primeiras cidades a conhecer a técnica de extrair a palha do tronco da bananeira, Miracatu só passou a valorizar o artesanato como alternativa de geração de renda quando a administração municipal investiu no Centro de Capacitação e Produção. No ano passado, a Prefeitura inaugurou a Banarte, espaço para ensino, produção e comercialização do artesanato feito com a palha da bananeira. Desde então, cerca de 150 pessoas já foram capacitadas, segundo a primeira-dama e idealizadora do projeto em Miracatu, Susana Mendonça. Na Casa do Artesão, os produtos feitos com a palha se tornam artigos de luxo. O local também foi cedido pela Prefeitura para comercializar todo tipo de artesanato produzido no município. Enquanto a reportagem do JR fotografava a Casa do Artesão, um casal de empresários comprava peças de artesanato para revender em seu estabelecimento, recém inaugurado em Juquiá. Os artigos feitos com a palha da bananeira chamaram a atenção dos empresários em matéria veiculada no dia 13 de abril de 2003 no Globo Rural (programa da Rede Globo de Televisão). Atualmente, 60 pessoas trabalham no Centro de Capacitação e Produção como aprendizes. O artesanato vendido em feiras e exposições ajuda a manter os cursos - 10% fica para a manutenção e o restante é dividido entre os artesãos. As artesãs de Miracatu também participam de todas as feiras e eventos que são convidadas. Recentemente, o artesanato e palha de bananeira produzido no município foi incluído no Guia do Presente Solidário, elaborado pelo Sebrae-SP. O Sebrae também mantém um espaço na Capital, onde é comercializado o artesanato produzido no Vale do Ribeira. Susana Mendonça avalia que o trabalho em Miracatu ainda está no início. "Precisamos capacitar o maior número de pessoas possível para podermos buscar mercado e atender a demanda", observa a primeira-dama. Agora, ela tenta incluir o artesanato em fibra de bananeira no Programa de Exportação desenvolvido pelo governo do Estado, para exportar os produtos para Itália, Holanda, França e Arábia Saudita.


Fonte: QueroArte - Artesanato com a cara do BRASIL